Sónia Aguiar: "Luxo são detalhes que melhoram a experiência de quem vive a casa" Ter vivido em 20 casas desenhadas por si permite à fundadora do atelier LCAS uma perceção muito funcional de cada projeto. 23 mai 2025 min de leitura Assumem-se como um atelier de arquitetura de luxo, com "conceitos inovadores e abordagens ambientalmente conscientes". Sónia Aguiar, arquiteta fundadora do LCAS-Studio, está há mais de 20 anos neste caminho que percebeu que seria o seu desde a casa que viu ser construída ainda em criança. Serão as certezas que lhe conferem a calma com que nos fala do seu trabalho. O empreendedorismo como promotora imobiliária levou-a a viver com a sua família em 20 casas desenhadas por si, o que lhe deu uma visão prática daquilo que realmente funciona. E é exactamente dessa forma que define o luxo: "ter tempo para pensar nas coisas que realmente fazem sentido e proporcionam um conforto extra a quem habita a casa." "O luxo não está no tamanho da casa ou nos materiais caros, mas nos detalhes bem pensados que fazem a diferença", diz. Sónia Aguiar considera que nenhum curso de arquitetura prepara para os desafios da gestão de uma empresa. As dificuldades existem mas os sonhos são muito maiores e ficamos a imaginar essa grande quinta, contemporânea, com cavalos, turismo e agricultura, em qualquer lugar do mundo. Melides, LCAS Sempre soube que queria seguir essa profissão? Desde os 10 ou 11 anos. Nessa altura, os meus pais decidiram construir uma casa de família e eu acompanhei todo o processo. Lembro-me de discutir ideias, de visitar a obra… Foi aí que percebi que era isso que queria fazer. Identifiquei-me completamente com a parte criativa. A minha mãe também sempre foi muito criativa, então parecia um caminho natural para mim. Ao contrário de muitos colegas que não sabiam o que queriam fazer, eu nunca tive dúvidas Ao contrário de muitos colegas que não sabiam o que queriam fazer, eu nunca tive dúvidas. Desde essa idade, soube que queria ser arquiteta e comecei a traçar o meu percurso. E já são 20 anos de gabinete, mas na arquitetura, no geral, são mais. O segmento do luxo foi um objetivo ou surgiu naturalmente? Foi algo que surgiu ao longo do tempo, mas é o que gosto de fazer. Por um lado, comecei a fazer pequenas promoções imobiliárias, comprava casas, remodelava e vivia nelas com a minha família. Isso deu-me sensibilidade para perceber o que funciona numa casa em termos de arquitetura. Como já vivi em 20 casas diferentes, em projetos meus, ganhei uma perceção muito prática do que faz sentido. Essa experiência foi essencial e trouxe uma grande mais-valia para os meus projetos. Como já vivi em 20 casas diferentes, em projetos meus, ganhei uma perceção muito prática do que faz sentido. Por um lado, como tenho dupla nacionalidade, portuguesa e alemã, comecei a ouvir alguns estrangeiros, particularmente alemães e suecos. Eles identificavam-se com a minha arquitetura, diziam que era muito nórdica. Quando estes clientes começaram a vir para Portugal, especialmente a partir de 2008, não procuravam casas modestas, mas sim projetos de um nível mais elevado. O primeiro grande projeto nesse segmento foi a Quinta do Castanheiro, em Colares, uma propriedade incrível. Depois, veio um cliente alemão que queria uma casa super contemporânea em Cascais, nas Almoinhas. Aos poucos, percebi que esse era o tipo de trabalho que me interessava e fui consolidando essa trajetória. Portas Encarnadas, LCAS O que é mais gratificante ao trabalhar com arquitetura de luxo? É a liberdade criativa? Os orçamentos mais elevados? O mais importante é ter tempo para pensar cada detalhe e desenvolver um conceito forte, personalizado até ao fim. Não se trata apenas de grandes áreas ou materiais caros, mas sim dos pormenores bem pensados que fazem a diferença. Tudo começa com um conceito e uma história, independentemente de ser um apartamento, uma moradia ou um prédio. Essa história precisa de ser coerente, tanto em termos formais como funcionais. Tudo começa com um conceito e uma história, independentemente de ser um apartamento, uma moradia ou um prédio. Existe uma enorme valorização muito dos materiais. Gosto de usar materiais duradouros, como pedra ou betão, porque envelhecem bem e mantêm-se intemporais. Mas também gosto de introduzir madeira, que dá um toque mais acolhedor à arquitetura. Estamos a falar de fachadas e da volumetria, mas também estamos a falar do interior da casa. Gosto de escolher dois, três materiais e tentar, com o percurso da casa, conseguir manter. Não misturar com uma data de outras coisas que depois fiquem fora de contexto. O importante é manter uma continuidade de materiais ao longo do projeto, para que tudo faça sentido. Cascais, LCAS Na apresentação do atelier menciona que procura "ultrapassar os limites da arquitetura de luxo". O que quer dizer com isso? Quero que os projetos tenham mais do que apenas um visual luxuoso. O verdadeiro luxo está nos detalhes que melhoram a experiência de quem habita a casa. Dou um exemplo simples: nas minhas casas, mudo sempre a misturadora do duche para a parede oposta. Assim, quando se abre a água, não se leva com um jato de água fria de surpresa. São pequenos detalhes que não custam mais dinheiro, mas que fazem toda a diferença no dia a dia. Para mim, isso é luxo: pensar no conforto e na experiência do utilizador. Para mim, isso é luxo: pensar no conforto e na experiência do utilizador. O luxo, então, também está em pensar a arquitetura como arte, mais do que como algo meramente funcional? Sim, significa criar espaços impactantes e inesperados – pé-direitos altíssimos, vãos pivotantes de vidro, elementos arquitetónicos que causem surpresa. Mas com equilíbrio. A arquitetura precisa de funcionar não apenas no dia da inauguração, mas também a longo prazo. Não adianta criar algo visualmente impressionante se, na prática, não for prático ou exigir manutenção constante. Gosto de usar materiais naturais que envelhecem bem, porque uma casa não deve ser apenas bonita para a fotografia, mas sim sustentável e funcional ao longo dos anos. Entre os seus projetos, há algum que tenha sido mais marcante? Todos os projetos são especiais à sua maneira. Alguns marcam porque o cliente era especial, outros porque conseguimos executar exatamente o que tínhamos idealizado. E há também aqueles que foram desafiantes, mas que acabaram por surpreender no resultado final. Se tivesse de destacar um, diria que a primeira casa contemporânea que fiz foi um marco, a tal casa nas Almoinhas. Mas também houve um projeto em Cascais, uma guest house, numa casa que eu sempre admirei desde criança. Durante anos, dizia para mim mesma que queria fazer um projeto ali, e, passados 20 anos, surgiu a oportunidade. Foi muito especial. Murches, LCAS E há algo que ainda gostava de fazer? Sim! O meu sonho é projetar uma herdade com turismo, agricultura e cavalos. E, curiosamente, há pouco tempo apareceu um cliente paquistanês que comprou uma quinta enorme e quer fazer exatamente isso. O meu sonho é projetar uma herdade com turismo, agricultura e cavalos Ele perguntou-me se eu sabia fazer esse tipo de projeto e, quando lhe contei que era o meu sonho, ele disse-me: “Então vais fazê-lo na minha quinta, no Paquistão. Para terminar, ainda há poucas mulheres na arquitetura, especialmente no setor do luxo e grandes projetos. Acha que é um desafio extra? Sim, continua a ser um desafio, principalmente quando trabalhamos com promotores e fundos de investimento. No segmento de clientes privados, é mais fácil, mas no mundo dos grandes negócios, ainda sentimos uma resistência inicial. No entanto, acredito que, uma vez que conseguimos entrar e provar o nosso valor, as oportunidades surgem. Além disso, um dos grandes desafios da arquitetura, para homens e mulheres, é que não somos preparados para gerir empresas. No curso, aprendemos a projetar, mas não a gerir recursos humanos, orçamentos e clientes. Isso é algo que temos de aprender ao longo do caminho. Fonte:"Luxo são os detalhes que melhoram a experiência de quem habita a casa" — idealista/news Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado