Segredos do self-storage: armazéns que são uma “extensão das casas”

O setor do self-storage tem ainda muito espaço para crescer em Portugal”. O cofundador da Control Space, empresa portuguesa de soluções de armazenamento que oferece espaços seguros, acessíveis e convenientes para guardar bens, de forma temporária ou a longo prazo, revela ao idealista/news alguns dos segredos deste modelo de negócio e as mais-valias destes armazéns, nomeadamente no setor imobiliário residencial. “A crise na habitação tem levado muitas famílias a optar por imóveis mais caros e com áreas reduzidas. Neste contexto, o self-storage surge como uma solução prática e complementar, funcionando como uma extensão das suas casas”, conta Albano Costa Lobo.

Numa espécie de viagem ao passado, o responsável recorda o processo de criação da Control Space, em 2021, adiantando que foi identificada “uma crescente procura por espaço adicional, impulsionada pelo aumento dos custos habitacionais, que leva as pessoas a optar por casas mais pequenas, por projetos imobiliários que não incluem áreas de arrecadação, por mudanças de residência e pela adoção do teletrabalho, que exige uma reorganização dos espaços domésticos”. 

Albano Costa Lobo fala ainda sobre o processo de expansão da Control Space – a empresa anunciou, recentemente, a aquisição de um novo espaço no Taguspark, em Oeiras (Lisboa), com 10.000 metros quadrados (m2) de área disponível e mais de 1.000 unidades de armazenamento – e sobre a importância destes espaços (também) no segmento de escritórios: “Temos vindo a observar uma utilização crescente por parte de pequenos negócios, sobretudo ligados ao comércio eletrónico, que usam os armazéns como apoio logístico. Muitos clientes armazenam aqui o seu stock, materiais e equipamentos, o que lhes permite operar de forma mais eficiente, sem recorrer a espaços comerciais tradicionais, mais onerosos”. 

Créditos: Control Space

Fale-nos um pouco sobre a Control Space. Quando e como nasceu a empresa e porque foi criada?

A Control Space foi fundada em 2021 como uma subsidiária da Colares Capital, uma empresa de gestão de investimentos no setor imobiliário que cofundei com o Vasco Fino. Mais tarde, convidámos o Francisco Parreira do Amaral para se juntar a nós como sócio.

A inspiração para a empresa surgiu durante visitas a instalações de self-storage em Nova Iorque e Londres, onde analisámos as melhores práticas em mercados mais desenvolvidos. Além disso, realizámos uma análise detalhada do mercado português e das necessidades emergentes da população. Identificámos uma crescente procura por espaço adicional, impulsionada pelo aumento dos custos habitacionais, que leva as pessoas a optar por casas mais pequenas, por projetos imobiliários que não incluem áreas de arrecadação, por mudanças de residência e pela adoção do teletrabalho, que exige uma reorganização dos espaços domésticos. A expansão do comércio eletrónico, que requer soluções de armazenamento flexíveis, e situações pessoais como a chegada de um bebé, heranças familiares ou a prática de desportos com equipamentos volumosos são também fatores que justificam essa procura.

A Control Space nasceu da nossa capacidade de compreender essas necessidades e das nossas próprias experiências enquanto emigrantes, em que também enfrentámos desafios relacionados com a falta de espaço para armazenar os nossos pertences.

Estamos a falar de um modelo de negócio que consiste em pequenos armazéns onde as pessoas podem guardar objetos ou mobiliário sem uso, por exemplo. O que é mais comum as pessoas guardarem?

O self-storage oferece espaços onde os clientes podem armazenar uma variedade de itens, desde mobiliário sem uso até roupas sazonais. Temos observado uma grande diversidade de objetos armazenados, incluindo malas de viagem, equipamentos desportivos, materiais relacionados com hobbies e stocks de pequenos negócios. A flexibilidade do self-storage permite que cada cliente utilize o espaço conforme as suas necessidades específicas. Além disso, identificamos as mudanças de casa como uma das principais razões de armazenamento. Temos parcerias com várias empresas de mudanças, para facilitar e simplificar o processo para o cliente. Com o negócio imobiliário em crescimento, as pessoas mudam de casa com mais frequência. Esta mudança pode ser para uma casa maior ou mais pequena, mas os móveis fazem com certeza parte dos objetos mais guardados nos nossos armazéns.

Quantos espaços tem a empresa em Portugal e em que zonas do país? Como são, por norma, estes espaços? Quantos m2 podem ter, quais as possibilidades existentes?

A Control Space conta com nove localizações nas zonas de Lisboa e Porto. Quatro dessas unidades já estão em funcionamento – Campo de Ourique, Alcântara, Alfragide e Zona Industrial do Porto. Este ano, com o investimento em novas unidades, alcançámos um total de cerca de 40.000 m2 de área bruta de armazenamento. Em breve, vamos expandir para Gaia, Montijo e Sintra-Cascais, com a próxima abertura a acontecer já em maio, na Rua da Alegria, no centro do Porto.

"Identificamos as mudanças de casa como uma das principais razões de armazenamento. (...) Com o negócio imobiliário em crescimento, as pessoas mudam de casa com mais frequência. Esta mudança pode ser para uma casa maior ou mais pequena, mas os móveis fazem com certeza parte dos objetos mais guardados nos nossos armazéns"

Os espaços variam entre cacifos com 1 m3 até unidades com 30 m2, permitindo aos clientes escolher a solução que melhor se adapta às suas necessidades. Para apoiar esse processo, disponibilizamos uma "calculadora" no nosso website que ajuda na escolha do tamanho adequado. Além disso, os clientes podem contar com o nosso apoio personalizado por telefone ou presencialmente. A reserva pode ser feita de forma autónoma ou com assistência, e o acesso ao espaço é gerido através da nossa aplicação móvel. Destacamo-nos pela inovação tecnológica: eliminámos a necessidade de chaves e cadeados físicos. Toda a experiência é digital, desde a reserva até ao acesso, que é feito diretamente pelo telemóvel. Um dos nossos diferenciais é a possibilidade de partilhar chaves digitais, permitindo que várias pessoas autorizadas utilizem o mesmo espaço de forma segura e conveniente.

Fundadores da Control SpaceCréditos: Control Space

E os preços, quanto custa arrendar um destes espaços? 

Os valores variam consoante o tamanho do espaço, com uma permanência mínima de quatro semanas. Os clientes têm a liberdade de começar, por exemplo, com 10 m2 e ajustar a área conforme as suas necessidades, aumentando ou reduzindo o espaço sempre que necessário. Desta forma, garantimos que ninguém paga por mais do que realmente precisa.

"O objetivo é tornar o self-storage acessível, oferecendo soluções que combinam segurança, flexibilidade e excelência tecnológica. Estamos comprometidos em disponibilizar espaços de armazenamento modernos e eficientes em localizações estratégicas, sempre com foco na conveniência dos clientes"

O objetivo é tornar o self-storage acessível, oferecendo soluções que combinam segurança, flexibilidade e excelência tecnológica. Estamos comprometidos em disponibilizar espaços de armazenamento modernos e eficientes em localizações estratégicas, sempre com foco na conveniência dos clientes.

Qual é o público-alvo deste negócio? Quem procura estes espaços de armazenamento? 

O público-alvo da Control Space abrange tanto particulares como empresas, ou seja, qualquer pessoa ou negócio que precise de espaço extra. Atualmente, a maior parte da procura vem de clientes particulares que procuram otimizar o espaço nas suas casas. No entanto, temos registado um crescimento significativo no segmento empresarial, especialmente no setor do e-commerce, onde muitas empresas necessitam de soluções logísticas flexíveis para armazenar stock e outros materiais. Além disso, empresas mais tradicionais estão a adotar modelos operacionais que exigem maior adaptabilidade em termos de espaço. A nossa base de clientes é predominantemente portuguesa, com uma média de idades entre os 30 e os 50 anos, mas também atendemos clientes estrangeiros que residem em Portugal ou que têm negócios no país.

São já, ao todo, cerca de 40.000 m2 de área bruta de armazenamento, correto?

Já ultrapassámos os 40.000 m2 de área bruta de armazenamento, com a aquisição de um novo espaço na região de Sintra-Cascais [com a nova unidade no Taguspark, conforme mencionado em cima]. Ao longo deste ano, estão previstas aberturas no centro do Porto, em Gaia, no Montijo e em Sintra-Cascais.

Em termos de investimento, estão em causa mais de 30 milhões de euros. Quanto prevê a empresa investir mais em 2025 e no futuro?

O nosso investimento acumulado já ultrapassa os 30 milhões de euros e pretendemos continuar a crescer de forma sustentável. Continuamos focados na consolidação da nossa presença em Portugal, com novas aberturas em localizações estratégicas que respondam às necessidades da população e das empresas.

Acreditamos que o setor do self-storage tem ainda muito espaço para crescer em Portugal e queremos posicionar a Control Space como líder de mercado, reforçando o nosso compromisso com a inovação, a conveniência, a qualidade do serviço prestado e a profissionalização do setor. Temos a ambição de duplicar a nossa capacidade instalada, diversificar a oferta e continuar a melhorar a experiência do cliente através da tecnologia.

Novo espaço no Taguspark comprado pela Control SpaceCréditos: Control Space

Portugal atravessa uma crise na habitação, ou de acesso a habitação, e é urgente construir mais casas e que possam ser compradas pela generalidade dos portugueses. O negócio de self-storage poderá, de alguma forma, ter impacto no setor imobiliário residencial?

A crise na habitação tem levado muitas famílias a optar por imóveis mais caros e com áreas reduzidas. Neste contexto, o self-storage surge como uma solução prática e complementar, funcionando como uma extensão das suas casas.

"A crise na habitação tem levado muitas famílias a optar por imóveis mais caros e com áreas reduzidas. Neste contexto, o self-storage surge como uma solução prática e complementar, funcionando como uma extensão das suas casas"

Cada vez mais pessoas recorrem aos nossos espaços no dia a dia, seja para guardar equipamentos relacionados com os seus hobbies – como um surfista que não tem onde guardar as pranchas – ou como apoio em momentos de transição, como um divórcio ou uma herança. O self-storage revela-se também útil em situações felizes, como quando um casal decide viver junto num espaço mais compacto ou quando a família cresce e é necessário reorganizar o espaço doméstico. Esta capacidade de adaptação à vida real das pessoas posiciona o self-storage como uma infraestrutura relevante num contexto habitacional desafiante, contribuindo para novos modelos de habitação mais flexíveis, funcionais e adequados às necessidades.

Será possível viver num destes armazéns, nem que seja de forma temporária?

Os nossos espaços foram pensados exclusivamente para armazenamento e não estão licenciados nem equipados para acolher habitação, mesmo que temporária. A segurança, a higiene e o conforto são prioridades no nosso modelo de operação, e é precisamente por respeitarmos a regulamentação em vigor e assegurarmos condições adequadas para a função de armazenagem que reforçamos o nosso compromisso com a profissionalização do setor. O self-storage pode ser um recurso valioso em momentos de transição, mas não substitui, nem deve substituir, uma habitação.

As tendências do mercado apontam para a construção de casas de menor dimensão, quer para reduzir custos de aquisição e manutenção quer porque as necessidades das famílias também estarão a mudar, havendo como que uma redefinição do conceito de espaço útil nas habitações. Esta é também uma das mais-valias destes armazéns, que podem servir para guardar “coisas” e as pessoas poderem ter, assim, casas mais pequenas e funcionais?

Sem dúvida, essa é uma das grandes mais-valias do self-storage. A tendência para habitações mais pequenas e funcionais, associada à necessidade de controlar custos e responder a estilos de vida mais urbanos e dinâmicos, reforça a relevância dos nossos espaços. O self-storage permite libertar espaço em casa, mantendo acesso seguro e cómodo a bens que são importantes para as pessoas, mas que não precisam de estar presentes no dia a dia. Falamos não só de objetos funcionais, como equipamentos sazonais ou mobiliário extra, mas também de objetos com forte carga emocional: lembranças de família, peças com valor afetivo ou memórias que não se querem perder.

"A tendência para habitações mais pequenas e funcionais, associada à necessidade de controlar custos e responder a estilos de vida mais urbanos e dinâmicos, reforça a relevância dos nossos espaços. O self-storage permite libertar espaço em casa, mantendo acesso seguro e cómodo a bens que são importantes para as pessoas, mas que não precisam de estar presentes no dia a dia"

Assim, é possível viver em casas mais pequenas sem abdicar de conforto, organização e qualidade de vida, preservando aquilo que nos é mais querido. Esta solução também se estende ao mundo empresarial, permitindo que muitos negócios reduzam os seus custos fixos e otimizem recursos, ao mesmo tempo que se adaptam a novas formas de operar. Ao apoiar este tipo de transições, o self-storage assume um papel ativo na transformação positiva do espaço urbano e na forma como vivemos e trabalhamos.

Usar estes armazéns para trabalhar, fazendo com que sejam espaços de escritório e permitindo, assim, não trabalhar em casa, em teletrabalho ou em regime híbrido, também é uma possibilidade?

Embora os nossos espaços não tenham sido concebidos para funcionar como escritórios, temos vindo a observar uma utilização crescente por parte de pequenos negócios, sobretudo ligados ao comércio eletrónico, que usam os armazéns como apoio logístico. Muitos clientes armazenam aqui o seu stock, materiais e equipamentos, o que lhes permite operar de forma mais eficiente, sem recorrer a espaços comerciais tradicionais, mais onerosos. A flexibilidade dos nossos contratos, associada a localizações estratégicas e acessíveis, facilita este tipo de uso e responde às novas exigências de um mercado em constante mudança. Estamos atentos à evolução destas necessidades e comprometidos em continuar a inovar, oferecendo soluções que valorizem a flexibilidade, a eficiência e a profissionalização do setor.

Créditos: Control Space
Fonte: Segredos do self-storage: armazéns que são uma “extensão das casas” — idealista/news