“As empresas estão a transformar os escritórios em espaços mais humanos, flexíveis e tecnologicamente avançados”. A garantia é dada por Vítor Cajus, Head of Project & Development Services na Cushman & Wakefield (C&W) Portugal, que revela, em entrevista ao idealista/news, que a procura por espaço de qualidade em Portugal, sobretudo em Lisboa e Porto, tem vindo a aumentar. “O escritório tradicional, onde se ia todos os dias, está a perder relevância. O futuro passa por espaços que promovem colaboração, cultura e bem-estar, adaptando-se às novas dinâmicas das equipas”, antecipa. 

Não é de estranhar, então, que as organizações estejam a investir na renovação dos seus espaços, no chamado ‘fit out’, de forma a atrair trabalhadores. Vítor Cajus destaca, por exemplo, que “ambientes fechados deram lugar a zonas abertas e colaborativas, com foco no bem-estar – luz natural, áreas verdes, zonas de descanso e até ginásios ou cantinas”. “O objetivo é claro: criar uma experiência que motive os colaboradores a regressar ao escritório, reforçando a cultura da empresa e promovendo a produtividade num modelo híbrido que veio para ficar”, explica. 

Um estudo recente desenvolvido pela C&W, denominado “Fit Out Cost Guide 2025", aborda precisamente os custos associados à renovação de escritóriosLisboa é a única cidade portuguesa representada no ranking, entre 53 metrópoles analisadas. Na capital, o custo médio para fazer o ‘fit out’ de um escritório é de 1.127 euros por metro quadrado (euros/m2), sendo mais caro, por exemplo, que em Madrid (capital espanhola), onde o custo médio é de 1.083 euros/m2.

Trabalhar em escritórios modernos
Projetos de 'fit out' desenvolvido pela C&WCréditos: C&W

Em termos gerais, que conclusões é possível retirar do estudo "Fit Out Cost Guide 2025", quer a nível global quer a nível nacional?

As conclusões são de que há cada vez mais procura por espaço de qualidade em Portugal, sobretudo em Lisboa e Porto. O crescimento do trabalho híbrido e o foco no bem-estar dos ocupantes são os principais motores desta tendência. Comparando com outras cidades europeias, é mais caro fazer um ‘fit out’ médio em Lisboa que em Madrid, por exemplo. O estudo inclui também um inquérito a fornecedores da indústria (‘contractor sentiment survey’), onde 68% acreditam que os custos com mão de obra vão continuar a subir, 62% apontam para aumento nos materiais e 46% afirmam que os clientes gastaram mais em matérias relacionadas com ESG em 2024 face a 2023.

No caso concreto de Lisboa, a única cidade portuguesa representada no estudo, o custo médio, por m2, para fazer um ‘fit out’ de um escritório varia entre 831 e 1.518 euros, certo? A que se deve esta diferença?

Sim, e esse intervalo depende diretamente do tipo de intervenção realizada no espaço. Quando fazemos um ‘fit out’ podemos ter variadíssimos tipos de intervenção, e esse nível de intervenção é que define o custo final. Para ajudar a perceber, no estudo categorizamos o tipo de intervenção em três grandes grupos:  

  • Pequena intervenção: pintura, acabamentos simples, alterações mínimas ao ar condicionado e rede de dados básica;
  • Intervenção média: divisórias em vidro simples, acabamentos decorativos, alterações ao teto e climatização adaptada;
  • Grande intervenção: divisórias em vidro duplo, tetos decorativos, acabamentos premium e maior densidade tecnológica.

Como se posiciona no ranking a cidade de Lisboa face a outras metrópoles?

Na Europa do Sul, é mais caro fazer um ‘fit out’ médio em Lisboa (1.127 euros/m2) que em Madrid (1.083 euros/m2), e ficamos apenas alguns (poucos) euros atrás de Barcelona e Paris, que apresentam valores de 1.138 euros/m2 e 1.161 euros/m2, respetivamente. Se compararmos com Reino Unido, Europa Central ou países nórdicos, aí a diferença é muito maior. A título de exemplo, o ‘fit-out’ médio em Londres (Reino Unido) tem um custo estimado de 2.671 euros/m2, em Frankfurt (Alemanha) de 2.408 euros/m2 e em Oslo (Noruega) de 1.770 euros/m2. 

"Há cada vez mais procura por espaço de qualidade em Portugal, sobretudo em Lisboa e Porto. O crescimento do trabalho híbrido e o foco no bem-estar dos ocupantes são os principais motores desta tendência"

As únicas metrópoles que “competem” com Lisboa estão maioritariamente situadas em mercados tidos como secundários ou periféricos, como é o caso de Sofia (Bulgária/860 euros/m2), Zagreb (Croácia/750 euros/m2), Belgrado (Sérvia/800 euros/m2) ou Ljubliana (Eslovénia/900 euros/m2).

Segmento de escritórios em Portugal
Projetos de 'fit out' desenvolvido pela C&WCréditos: C&W

Os custos têm aumentado de ano para ano? Face a 2024, por exemplo, qual é a diferença? O que justifica essa tendência?

Em Lisboa, o aumento foi de apenas 3% face a 2024, portanto residual. Os principais fatores continuam a ser a escassez de materiais e o aumento dos custos com mão de obra qualificada, um tema cada vez mais preocupante em Portugal.

Porque é que há empresas a apostar em 'fit out' de escritórios e o que as motiva a fazer este investimento?

investimento em ‘fit out’ deixou de ser apenas uma questão estética – hoje é uma ferramenta estratégica. As empresas procuram espaços que reflitam a sua cultura, promovam o bem-estar das equipas e estejam preparados para os novos modelos híbridos. Além disso, há uma crescente preocupação com a sustentabilidade e a eficiência dos espaços. O ‘fit out’ permite responder a tudo isso, com soluções à medida que combinam design, funcionalidade e tecnologia.

Há alguma área de atividade onde a procura por 'fit out' de escritórios é mais expressiva?

O setor tecnológico tem sido um dos principais motores da procura por ‘fit out’ em Portugal, impulsionado pela combinação de talento qualificado, custos operacionais competitivos e elevada qualidade de vida. Lisboa e Porto destacam-se pela infraestrutura tecnológica robusta, ambiente propício à inovação e capacidade de atrair profissionais internacionais, posicionando o país como destino estratégico para centros de desenvolvimento e 'hubs' digitais.

"As empresas estão a transformar os escritórios em espaços mais humanos, flexíveis e tecnologicamente avançados. (...) O objetivo é claro: criar uma experiência que motive os colaboradores a regressar ao escritório, reforçando a cultura da empresa e promovendo a produtividade num modelo híbrido que veio para ficar"

Empresas de IT, fintech e consultoria digital procuram espaços flexíveis, colaborativos e tecnologicamente avançados, que traduzam a sua cultura de inovação e contribuam para atrair e reter talento. Operando maioritariamente em modelos híbridos, estas empresas exigem ‘layouts’ adaptáveis e soluções que promovam a conectividade, a eficiência e o bem-estar das equipas.

Em que consistem estas mudanças nos escritórios? O que estão a fazer as empresas para de certa forma atraírem mais trabalhadores?

As empresas estão a transformar os escritórios em espaços mais humanos, flexíveis e tecnologicamente avançados. Ambientes fechados deram lugar a zonas abertas e colaborativas, com foco no bem-estar – luz natural, áreas verdes, zonas de descanso e até ginásios ou cantinas. O objetivo é claro: criar uma experiência que motive os colaboradores a regressar ao escritório, reforçando a cultura da empresa e promovendo a produtividade num modelo híbrido que veio para ficar.

Empresas estão a renovar os seus escritórios
Projetos de 'fit out' desenvolvido pela C&WCréditos: C&W

Falando sobre o mercado de escritórios a nível nacional, é possível concluir que o trabalho híbrido está a ganhar cada vez mais espaço? Acredita que o modelo de escritórios como o conhecíamos na pré-pandemia (ir todos os dias ao escritório) está obsoleto? 

É a pergunta para um milhão de euros que ninguém sabe com toda a certeza responder. Temos assistido, um pouco por todo o mundo e também em Portugal, ao regresso total ao escritório, e já são muitas as empresas que tornaram essa vontade pública, como é o caso da Amazon. Ainda assim, o modelo híbrido continua a ganhar espaço, porque mais que o modelo de trabalho ou de escritório, os ocupantes procuram agora flexibilidade – inclusive contratual – e escolhem cada vez mais espaços mais capacitados, com mais serviços para os trabalhadores. O escritório tradicional, onde se ia todos os dias, está a perder relevância. O futuro passa por espaços que promovem colaboração, cultura e bem-estar, adaptando-se às novas dinâmicas das equipas.

O estudo "Fit Out Cost Guide 2025" aborda também o custo de reinstalação, que na Grande Lisboa varia entre 109 e 212 euros/m2, certo? Do que é que estamos a falar, em concreto, e em que lugar do ranking se posiciona Lisboa?

Sim, o estudo aponta que o custo de reinstalação na Grande Lisboa varia entre 109 e 212 euros/m2, dependendo do nível de intervenção. Estamos a falar de despesas associadas à reposição do espaço para o estado original – como desmontagem de infraestruturas, remoção de acabamentos e preparação para nova ocupação. Lisboa posiciona-se acima de cidades como Madrid e Barcelona, e ao nível de Roma e Milão, refletindo uma maior sofisticação dos espaços e exigência técnica. Esta realidade reforça a importância de decisões bem informadas na escolha e gestão dos escritórios.

"O escritório tradicional, onde se ia todos os dias, está a perder relevância. O futuro passa por espaços que promovem colaboração, cultura e bem-estar, adaptando-se às novas dinâmicas das equipas"

É possível definir aquele que seria o escritório ideal? O que não poderia faltar nesse escritório?

O escritório ideal não é um modelo único, é aquele que responde às necessidades específicas de cada empresa e das suas pessoas. Mas há elementos que hoje são praticamente indispensáveis: flexibilidade nos ‘layouts’, tecnologia integrada, zonas colaborativas, áreas de bem-estar e serviços complementares como cantinas, ginásios ou apoio psicológico. O espaço tem de ser mais do que funcional, tem de ser atrativo, inspirador e capaz de criar uma experiência positiva para quem lá trabalha. É isso que faz a diferença na retenção de talento e na cultura organizacional.

O segmento de escritórios parece estar de boa saúde, com a procura a manter-se elevada. E a oferta, como está? Ainda há espaços em Lisboa para receber empresas? 

Sim, sobretudo nas zonas centrais como o CBD e o Corredor Oeste. Mas a nossa preocupação está em 2026, quando a oferta de escritórios novos e de qualidade será muito reduzida – a maioria dos projetos só está prevista para 2027/2028. A procura tem evoluído de forma distinta: em Lisboa manteve-se sólida enquanto no Porto foi mais instável. 

O problema comum é a escassez de oferta qualificada: apenas 16% do stock lisboeta é Grade A e muitos edifícios já não cumprem os requisitos atuais. Em Lisboa, o ‘pipeline’ é relevante, com 330.000 m2 previstos nos próximos três anos, 44% já pré-colocados. No Porto, a absorção caiu 66% face a 2024 e o ‘pipeline’ é de 170.000 m2, com 22% pré-colocados, concentrados no CBD e em Matosinhos.

Fit out de escritóriosFonte:“Empresas estão a transformar os escritórios em espaços mais humanos” — idealista/news